Navegamos no Ganga – forma como os indianos chamam o seu reverenciado rio – após o entardecer e nas primeiras horas da manhã, antes do nascer do sol.
Tivemos momentos marcantes: diante da casa onde se hospedava Krishnamurti, mais à frente no crematório e, em seguida, os ghats.
Krishnamurti, educador contemporâneo da filosofia indiana, chama atenção para a contemplação, que é uma forma de se manter concentrado no momento presente e dele extrair ensinamentos e informações para a vida aqui e agora. O local de repouso do educador, às margens do rio, é de uma calma e beleza contagiantes.
Diante do crematório, o fogo de Shiva está vivo há milhares de anos queimando corpos para que as almas, desta forma libertas, sigam seus caminhos à uma nova morada. Especialmente à noite as chamas altas e a energia densa podem provocar incômodo.
Nos ghats, onde se realizam as cerimônias diárias de oferendas e agradecimentos, todos se reúnem em absoluta comunhão: indianos, turistas, crianças vendendo flores e demais miudezas para os visitantes e sadhus – que são místicos praticantes de ioga, monges andarilhos para o hinduísmo. É uma mistura colorida que coloca a multidão lado a lado, todos os dias.
Cada um destes momentos ganha características distintas à noite ou durante o dia. Trata-se de contemplação, impermanência e da própria qualidade de olhar do observador: como estou me sentindo aqui e agora? Durante à noite fiquei incomodada; pela manhã vivenciei uma meditação reveladora no mesmo local.
O mergulho d’alma no Ganga é profundo e pode mexer em areias escuras. É preciso um tempo significativo para a areia sedimentar e revelar preciosidades. Ainda não é possível ver com clareza os peixes. Mas eles estão lá, nadando com desenvoltura e beleza. — em Connaught Place, New Delhi.
Por Valéria de Souza Lima. Para uso deste conteúdo, favor incluir a autora e a fonte desta publicação www.emocoesemtransito.com.br.