Emoções em trânsito

Encontrando a sua própria versão na vida

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Estados passageiros do Ser

Milan, que quer dizer encontro em nepalês, (aqui todos os nomes tem um significado) deve ter uns 37 anos, é guia de turismo e budista.

Observa os estrangeiros em suas visitas e o incômodo durante suas andanças pelos lugares inusitados dos passeios. São subidas, descidas, poeira, a absoluta saída da zona de conforto.

Acredita que os viajantes experimentam o sofrimento do mundo e tem a oportunidade de transmutar isto, já que fazem uma escolha consciente de viver o desconforto.

O que é a comodidade? O que é a inconveniência? São estados passageiros do ser. Nada é para sempre. Nem o bom. Nem o ruim. Impermanência. Desapego.

Para Milan o contraste entre o desconforto escolhido e o prazer esperado é a grande experiência de uma viagem.

Podemos promover esta transformação em nossas vidas todos os dias. Tudo passa. E rápido. O que eu gostaria de transformar hoje? — em Nepal.

Por Valéria de Souza Lima. Para uso deste conteúdo, favor incluir a autora e a fonte desta publicação www.emocoesemtransito.com.br.

A flor do Nepal

Manuka, que significa flor em nepalês, tem 23 anos e faz massagens ayurvédicas.

Mora só, porque passou sua infância em um orfanato, desconhece sua data exata de nascimento e até hoje nunca soube quem foram seus pais.

Acorda às 4h00, faz yoga e a comida, que vai levar para o trabalho. Às 5h00 vai para aulas de ‘management’ e às 9h00 começa a trabalhar no hotel mais sofisticado da cidade, que não oferece refeição para seus funcionários, por isto ela precisa prepará-la antes mesmo do nascer do sol. Pergunto se não se sente cansada. Ela diz que, às vezes, sim.

Aos sábados ela e o namorado fazem trabalhos voluntários nos orfanatos da cidade, porque não concordam com crianças que são vendidas para adoção, casamentos arranjados e prostituição.

Seus sonhos são conhecer o mar, gerenciar o próprio hotel e o seu orfanato.

A delicada flor nepalesa diz que é feliz e professa que as adversidades fazem as pessoas melhores. Esta pequena-grande mulher é um exemplo disto.

Ah! E, a propósito, Nepal significa:

Never
Ending
Peace
And
Love

— em Swayambhunath Stupa, Nepal.

Por Valéria de Souza Lima. Para uso deste conteúdo, favor incluir a autora e a fonte desta publicação www.emocoesemtransito.com.br.

O oriente que eu amo: silencioso, acolhedor e receptivo

Às nove da noite a cama já estava pronta e cheirosa para encontrar Morfeu no mundo dos sonhos.

Depois de uma noite abençoada no trem noturno de Bangkok para Chiang Mai, podemos aliviar o ritmo e acalmar a alma.

Este é o oriente que eu amo: silencioso, acolhedor e receptivo.

Bangkok é acelerada demais. Tanta informação que é impossível processá-la completamente.

Tempo de acalmar.
Rezar com os monges.
Tirar a maquiagem.
Lavar a alma.

Khan Pun Ka — em Chiang Mai, Thailand.

Por Valéria de Souza Lima. Para uso deste conteúdo, favor incluir a autora e a fonte desta publicação www.emocoesemtransito.com.br.

A cerimônia matrimonial definitiva

Agradeço à cosmopolita Debbie e ao superlativo Andrea não só as 12 horas de festa no Castelo de Osasco, como também as reflexões que um casamento grandioso e memorável podem promover.

Acredito que o verdadeiro matrimônio pressupõe um feminino íntegro. A palavra matri-mônio, ao contrário de patri-mônio, está relacionada com a mãe. Casar, ou celebrar o real matrimônio, é uma manifestação da anima plena. É quando duas qualidades, yin e yang, se reconhecem, se aninham, se acolhem e escolhem caminhar lado a lado pela jornada da vida.

As características de reconhecimento visceral e acolhimento incondicional são manifestações do feminino, independente de se expressarem em um homem ou em uma mulher.

E o que é casar senão combinar suporte e incentivo para uma viagem longa: a viagem pela vida? Até porque o equilíbrio dinâmico se dá a medida de cada passo. É preciso avançar um passo adiante do outro para que o verdadeiro equilíbrio se dê. No ritmo que convier a ambos. No mínimo devagar, mas, sempre. Com suporte e incentivo a vida flui.

Além da manifestação do casamento em si ser uma expressão do gênero, todos os seus adereços e mimos também são ‘coisas de menina’. O buquêt, por exemplo, é um companheiro temporário da futura esposa durante a cerimônia.

Originalmente concebido para perfumar a noiva, o buquêt era um recurso eficaz quando os corpos eram banhados apenas ocasionalmente.

Até o final da festa a noiva oferece suas flores para as amigas. A tradição defende que aquela que segura o buquêt arremessado será a próxima a se casar. Será? E se o buquêt arremessado for compartilhado entre várias amigas? Muitos casamentos em seguida! Até rimou 😉

Gosto de acreditar que flores e aromas ampliam o campo de intenção. Desta forma, se o verdadeiro matrimônio pressupõe um feminino íntegro, o compartilhamento do buquêt é não só um convite coletivo à redenção do feminino ferido, como também sua preparação para a maior cerimônia.

Concordamos que antes de qualquer ‘affair’, o encontro decisivo acontece na alma individual: anima e animus casados no ‘self’ são condição ‘sine qua non’ para que a realização amorosa aconteça na vida. Esta é a maior cerimônia que podemos promover para nós mesmos. A cerimônia definitiva.

E assim reunidos e aconchegados, no nosso próprio coração, podemos clamar e acreditar: que se consolide o amor amigo, o amor erótico, o amor companheiro, o amor verdadeiro.

Aos recém casados, Debbie e Andrea, agradeço, mais uma vez, a oportunidade de viver um momento tão mágico. Desejo a vocês a consciência, a paciência e a serenidade para viverem cada dia simplesmente. — em Piemonte, Itália.

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Golden Temple: trabalho, oração e serviço

No Golden Temple, de Amritsar, conhecemos o sikhismo ou siquismo, em seu principal reduto de adoração no planeta. Trata-se de uma religião monoteísta fundada em fins do século XV no Punjab, região dividida entre o Paquistão e a Índia, pelo Guru Nanak (1469-1539).

Retratado como o resultado do sincretismo entre elementos do hinduísmo e do islão, o sufismo, o sikhismo professa três premissas de conduta aos seus seguidores:

1) Trabalho: alcançar o sustento através da prática de trabalho honesto;
2) Oração: manter Deus presente na mente em todos os momentos;
3) Serviço: partilhar os frutos do trabalho com aqueles que necessitam.

O Guru Nanak instituiu o sistema de cozinha e refeitório comunitários, que se perpetuou até os nossos dias, alimentando diariamente, de forma gratuita, mais de 50 mil pessoas: é incrível e emocionante de ver.

A fraternidade, o trabalho coletivo, o serviço comunitário e a igualdade entre gêneros, raças, credos e castas são valores desta religião.

Gratificante ver os sikhs participando da ‘seva’ ou ‘sewa’, que significa serviço altruísta realizado na maioria das religiões indígenas, nas tradições do yoga e do hinduísmo. O serviço ao outro é considerado uma prática devocional porque desta forma Deus, no outro, está sendo reverenciado de uma forma aplicada, cotidiana e tangível.

Experimentei o ‘karah prasad’, que é uma refeição sagrada feita à base de farinha, açúcar e manteiga batida. Todos os participantes da cerimônia religiosa de um templo sikh recebem este alimento, sem distinção de casta, nível econômico ou crença religiosa: um exemplo de receptividade, generosidade e evolução.

Agradeço aos sikhs, termo que significa em língua punjabi ‘discípulo forte e tenaz’ a inspiração para prosseguir meu caminho com trabalho, oração e mais serviço ao próximo. — em Amritsar.

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Viajar só

Estou me despedindo de minha aventura individual. No final do dia de amanhã me junto ao grupo do Sagrado Sem Fronteiras, com Marco Shultz e Loka Daka.

Viajar só é mais que uma aventura. É um oportunidade singular de abrir o coração e acolher o inusitado: acontecimentos, pessoas, experiências.

Circular por aí com a companhia exclusiva do anjo de guarda é incrível: toda sorte de circunstâncias e pessoas apresentam-se e, só, é preciso tomar uma decisão, ou permitir a aproximação, seguir uma alternativa, a própria intuição.

Em grupo há outras possibilidades de ação e decisão, que neste caso, são tomadas coletivamente. Logo terei a oportunidade de vivenciar este formato.

De toda forma, nossa viagem pela vida é individual, mas nunca solitária. Chegamos sós e partiremos sós. Mesmo os gêmeos univitelinos saem separadamente da barriga de suas mães, e tem cartas astrológicas diferentes.

A viagem em sua própria companhia é uma celebração. Uma espécie de encontro com você mesmo, acompanhado de conversas íntimas, muitas vezes adiadas pelas agendas corridas do dia-a-dia. É uma festa. Uma boda consigo mesmo. Uma alegria.

Quando foi mesmo que você se proporcionou um momento mágico, um mimo, para fazê-lo mais realizado e feliz?

A viagem pela vida – única e extra-ordinária – deve ser prazerosa, sem esforço, fluida e leve como a brisa dos Himalayas.

Enjoy your trip. — em Kathmandu, Nepal.

Por Valéria de Souza Lima. Para uso deste conteúdo, favor incluir a autora e a fonte desta publicação www.emocoesemtransito.com.br.

O amanhã vai me trazer muito mais

Dilip, o homem de bom coração em nepalês, é um exímio artista em papel de arroz, tem 44 anos e três filhos.

Entre artes e chás, selecionei poucas coisas do artista porque estou no início da jornada, amanhã embarco para Delhi com restrição de bagagem e estava fazendo minha compra final para usar as últimas rúpias nepalesas.

A barganha é praxe por aqui e os preços chegam abaixo da metade da pedidaoriginal. A cada dia é possível refinar a prática da negociação.

O artista de coração bondoso calculou minhas compras, enquanto eu contava minhas notas. A seleção de itens foi maior que minha disponibilidade de rúpias e, conversando amistosamente com ele, fui desapegando devagarzinho de alguns mimos e indiquei minhas preferências para encerrar o negócio (se é que se pode chamar desta forma).

Ele insistiu que eu mantivesse todas as escolhas que me faziam feliz. E corou com a lição: o amanhã vai me trazer muito mais. Sua alegria é o meu presente para hoje. E ainda pediu que eu aceitasse um delicado calendário de 2014 para que me lembrasse daquele momento em que nós experimentamos a felicidade. — em Boudhanath, Nepal.

Por Valéria de Souza Lima. Para uso deste conteúdo, favor incluir a autora e a fonte desta publicação www.emocoesemtransito.com.br.

Uma longa jornada se inicia com o primeiro passo

Compartilhar histórias é um convite ao exercício particular da imaginação.

Imagens belíssimas chegam a seu tempo.

Emoções compartilhadas tem um formato mais discreto, com a humilde intenção de promover reflexões coletivas.

É uma forma de agradecer ao Grande Espírito o presente recebido. Aceitar. Retribuir.


Abrace com a alma a travessia que lhe é proposta.
A vida se encarregará da bússola.
Confie e avance.

Por Valéria de Souza Lima. Para uso deste conteúdo, favor incluir a autora e a fonte desta publicação www.emocoesemtransito.com.br.

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